O ESPÍRITO JUNINO PELAS MÃOS DE NOSSOS ARTISTAS

01/06/2022

Quando o inverno chega, nasce o espírito junino nas cidades brasileiras. Bandeirinhas colorem as casas e as fogueiras aquecem as noites frias.

A Festa Junina é uma das representações festivas mais recorrentes nas produções de artistas brasileiros. O tema aparece em cantigas, poesias e pinturas colorindo ainda mais o período junino.

Poesias como "Noite de São João" de Décio Valente descrevem muito bem o clima junino.

Noite de São João

Alegria no terreiro!

Coloridas bandeirolas,

Sanfona, flauta, pandeiro,

Cantores violões e violas.

Junto ao mastro de São João,

Nas mesas e tabuleiros,

Tigelinhas de quentão...

Quitutes bem brasileiros...

Pinhão, pipoca, amendoim...

O céu, cheinho de estrelas,

E eu, com você junto a mim,

Não me cansava de vê-las... Lá fora, clareando tudo,

A crepitante fogueira,

Estalando como açoite,

queimava o negro veludo

daquela festiva noite

de tradição brasileira.

Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) - foi influenciado pela arte européia, mas depois, encantou-se com sua terra e ficou famoso por retratar paisagens mineiras. Pintou uma série de obras tendo a Festa de São João como tema recorrente. Quando falamos em balões juninos, não podemos deixar de pensar em Guignard.

“Paisagem imaginária com igrejas e balões”, Alberto Guignard (déc. 1930).
“Paisagem imaginária com igrejas e balões”, Alberto Guignard (déc. 1930).

Anita Malfatti (1889- 1964) foi a primeira a misturar as técnicas europeias com os temas brasileiros, por meio do uso de cores fortes e elementos tropicais. A partir de 1940, a artista pintou cenas populares, sendo as festas juninas um dos temas.

"Festa de São João com guirlanda" Anita Malfatti - Déc.40.
"Festa de São João com guirlanda" Anita Malfatti - Déc.40.

Di Cavalcanti (1897-1976) além de pintor, foi desenhista, ilustrador, cartonista, caricaturista, muralista, cenógrafo, escritor, jornalista, poeta e doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia. Esteve à frente da Semana da Arte Moderna de 22. Apesar da influência cubista e surrealista, foi um dos mais típicos pintores brasileiros pela representação de grandes festividades públicas, entre elas, as festas juninas. Nos anos 60 foi saudado como "o mais brasileiro dos pintores modernistas".

"São João", Di Cavalcanti, 1969.
"São João", Di Cavalcanti, 1969.

Alfredo Volpi (1896-1988) foi um dos pintores mais importantes da segunda geração do modernismo. Na década de 1950 evoluiu para o abstracionismo geométrico e foi daí que nasceu a sua série emblemática que retrata bandeirinhas e mastros de festas juninas. Volpi gostava de usar cores vibrantes como: vermelho, azul, branco e preto.

"Festa de São João", Alfredo Volpi 1953.
"Festa de São João", Alfredo Volpi 1953.

Outro grande artista brasileiro, Cândido Portinari (1903-1962), pintou esta festa de São João, toda trabalhada com triângulos em tom de rosa, onde se vê a fogueira quadrada sendo montada ao estilo Santo Antônio.

Para cada um dos três santos que são celebrados nessa época do ano existe um formato de fogueira diferente. A fogueira de Santo Antônio é quadrada, já a fogueira de São João é montada com a base em formato redondo, fazendo com que esta, quando acesa, fique num formato de cone. A fogueira de São Pedro tem sua base triangular.

"Festa de São João", Portinari -1958.
"Festa de São João", Portinari -1958.

Djanira Motta da Silva (1914 -1979) foi desenhista, pintora, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora. Com uma temática predominantemente brasileira e linhas e cores simplificadas reproduziu em sua obra a paisagem nacional e festas folclóricas. Em 1972 recebeu um diploma e uma medalha, do Papa Paulo VI. Foi a primeira artista latino-americana a ser representada no Museu do Vaticano, com a obra "Sant'Ana de Pé".

"Festa junina", Djanira 1968.
"Festa junina", Djanira 1968.

Heitor dos Prazeres (1898-1966), compositor, cantor e pintor brasileiro, foi um dos pioneiros na composição de sambas e participou da fundação das primeiras escolas de samba do Brasil. Em meados de 1930 começou a pintar temas como jovens em festas juninas e rodas de samba apresentados quadros coloridos e alegres.

"Festa Junina" Heitor dos Prazeres- 1953.
"Festa Junina" Heitor dos Prazeres- 1953.

Por CAJ