O QUE MUDOU PARA O BRASIL COM A ABOLIÇÃO
A abolição da escravatura, que aconteceu por meio da Lei Áurea, foi um acontecimento marcante na história do Brasil e, apesar da aparente distância temporal, esse é um assunto que ainda gera inúmeros reflexos na nossa sociedade.
A abolição, que aconteceu em 1888, foi resultado de uma intensa campanha popular que pressionou o Império para abolir a instituição da escravidão no Brasil.
Não houve, nem antes nem depois de 1888 (com o advento da República), sequer um único projeto estatal que promovesse a assimilação dos negros libertos à sociedade e à economia brasileira da época.
A falta de iniciativas do governo para integrar o ex-escravo na sociedade e dar-lhe algo para sobreviver contribuiu para que os antigos senhores, muitas vezes, continuassem explorando os negros libertos.
As condições ruins e os salários baixos garantiam aos ex-escravos uma posição subalterna e marginalizada na sociedade.
A preocupação com o futuro era algo marcante para os ex-escravos, desejosos de construir um futuro melhor para si e para sua família, mas, sem acesso à terra e sem qualquer tipo de indenização por tanto tempo de trabalhos forçados, geralmente analfabetos, vítimas de todo tipo de preconceito, muitos ex-escravos permaneceram nas fazendas em que trabalhavam e outros preferiram abandonar os locais no qual viviam e procuraram outras fazendas vendendo seu trabalho em troca da sobrevivência.
Aos negros que migraram para as cidades só restaram os subempregos, a economia informal e o artesanato: eram sujeitos a empregos ruins e mal remunerados. A pobreza e a falta de oportunidades contribuíram para perpetuar essa parcela de ex-escravo sem posições marginais de nossa sociedade, o que contribuía, inclusive, para o crescimento da criminalidade. Com isso, aumentou de modo significativo o número de ambulantes, empregadas domésticas, quitandeiras sem qualquer tipo de assistência e garantia. Os negros que não moravam nas ruas passaram a morar, quando muito, em míseros cortiços.
O preconceito, a discriminação e a ideia permanente de que o negro só servia para trabalhos duros, ou seja, serviços pesados deixaram sequelas desde a abolição da escravatura até os dias atuais.
Muitos deles, em suas formas de se manifestar, procuravam exaltar e relembrar o Treze de Maio e a conquista da sua liberdade por meio do samba, da capoeira, da religião etc.
A existência da escravidão no Brasil durante quase quatrocentos anos, além de ter constituído a base da economia material da sociedade brasileira, influenciou também sua formação cultural. A miscigenação entre africanos, indígenas e europeus é a base da formação populacional do Brasil. Dessa forma, a matriz africana da sociedade tem uma influência cultural que vai além do vocabulário.
Temos algumas das características da influência africana no Brasil: moleque, quiabo, fubá, caçula, angu, cachaça, dengoso, quitute, berimbau e maracatu. Todas essas palavras do vocabulário brasileiro têm origem africana ou referem-se a alguma prática desenvolvida pelos africanos escravizados que vieram para o Brasil durante o período colonial e imperial. Elas expressam a grande influência africana que há na cultura brasileira.
O fato de as escravas africanas terem sido responsáveis pela cozinha dos engenhos, fazendas e casas-grandes do campo e da cidade permitiu a difusão da influência africana na alimentação. São exemplos culinários da influência africana o vatapá, acarajé, pamonha, mugunzá, caruru, quiabo e chuchu. Temperos também foram trazidos da África, como pimentas, o leite de coco e o azeite de dendê.
No aspecto religioso os africanos buscaram sempre manter suas tradições de acordo com os locais de onde haviam saído do continente africano. Entretanto, a necessidade de aderir ao catolicismo levou diversos grupos de africanos a misturar as religiões do continente africano com o cristianismo europeu, processo conhecido como sincretismo religioso. São exemplos de participação religiosa africana o candomblé, a umbanda, a quimbanda e o catimbó.
Algumas divindades religiosas africanas ligadas às forças da natureza ou a fatos do dia a dia foram aproximadas a personagens do catolicismo. Por exemplo, Iemanjá, que para alguns grupos étnicos africanos é a deusa das águas, no Brasil foi representada por Nossa Senhora. Xangô, o senhor dos raios e tempestades, foi representado por São Jerônimo.
O samba, afoxé, maracatu, congada, lundu e a capoeira são exemplos da influência africana na música brasileira que permanecem até os dias atuais. A música popular urbana no Brasil Imperial teve nos escravos que trabalhavam como barbeiros em Salvador e Rio de Janeiro uma de suas mais ricas expressões. Instrumentos como o tambor, atabaque, cuíca, alguns tipos de flauta, marimba e o berimbau também são heranças africanas que constituem parte da cultura brasileira. Cantos, como o jongo, ou danças, como a umbigada, são também elementos culturais provenientes dos africanos.
Historiadores chegam a afirmar que essa cultura da diáspora negra, essa cultura dos africanos saídos do continente, caracterizada pelo otimismo, pela coragem, musicalidade e ousadia estética e política, foi incomparável no contexto da chamada Civilização Ocidental.
Como não foi fácil à vida em terras americanas, foi preciso
lutar para sobreviver, a criação cultural com a expressão de liberdade que a
cultura negra possui foi um lutar dobrado para imprimir na cultura brasileira
sua influência.
Fonte: escolakids.uol.com.br
Por VIVAVIDA