A Evolução das Telecomunicações

01/04/2022

"Uma guerra sempre avança a tecnologia, mesmo sendo guerra santa, quente, morna ou fria".

Abordar tecnologia e ciência é falar de inovação e desenvolvimento. A ciência pertence ao contexto da vida em sociedade e realiza um intercâmbio direto com a tecnologia.

Ao observar a natureza, o homem produziu ferramentas que o ajudaram a executar o que seu corpo não conseguia ou tinha dificuldade. A tecnologia o ajudou a alterar seu espaço físico e, dessa forma, a interação dele com esse espaço. A luta pela sobrevivência fez o homem superar diversas ameaças, e, desde a pré-história, o mesmo faz uso desses artifícios para enfrentar essas adversidades. Militarmente não foi diferente.

Na pré-história da comunicação, é constante a presença do personagem mensageiro que, caminhando ou galopando, de um local para outro, anunciava as novidades a povoados isolados. Vários motivos justificavam a presença desses personagens. Ou por afeto, no caso de parentes, ou por precaução, no caso de saqueadores ou doenças, manter-se informado tornou-se um fator importante para a sobrevivência das pessoas. Esses mensageiros foram chamados militarmente de estafetas.

Na França, por exemplo, Napoleão Bonaparte iniciou um plano de conquista imperial da Europa, que deu origem às chamadas Guerras Napoleônicas. Nestas guerras, as comunicações assumiram um papel estratégico crucial. Foram utilizadas as Linhas de Torres, um dispositivo territorial militar, que estabelecia contato entre si através de telegrafia óptica, sendo decisivo para impedir a entrada das tropas francesas em Lisboa. Foram também muito utilizados no período de guerra os telégrafos visuais de Ciera, constituídos por um poste e um braço que permitia definir algumas posições, com as quais Ciera elaborou as tabelas telegráficas com 60 mil palavras que poderiam ser transmitidas com mais segurança e rapidez, já que não eram necessárias movimentações no terreno. Até o século XV, a comunicação se limitava à voz humana e as primeiras formas escritas eram feitas em madeira e pergaminhos. Na história, alguns fatos marcam épocas e mudam os costumes e as formas de se ver a sociedade. Como exemplo citar-se-á o alemão Johannes Gutemberg, ourives, que criou o primeiro grande meio de comunicação: a tipografia. A partir dela, inúmeros canais comunicativos puderam ser replicados, influenciando as interações na sociedade. Os primeiros mapas e cartografias militares, que ajudavam a progressão no terreno, também começaram a ser impressos, o que diferenciou estrategicamente os países. O telégrafo, outra marcante invenção, também despontou para sempre na história da humanidade. Um dos que tentou aperfeiçoar o telégrafo foi Alexander Graham Bell, que conseguiu transmitir som através dos fios, o que mais tarde ficou conhecido como telefone. A Bell TelephoneCompany foi fundada em 1877 e, após a queda da patente única da companhia, inúmeras outras se espalharam pelo mundo. É interessante observar, como afirmam Joseph Straubhaar e Robert LaRose(2004), no livro Comunicação, mídia e tecnologia, que todos os sistemas de telefone e telégrafo foram colocados sob o controle dos correios por um curto período ao final da Primeira Guerra Mundial, mas o aumento dos preços provocou uma demanda pública por um rápido retorno à propriedade privada. "Telefones móveis foram primeiro utilizados em embarcações em 1919. Experimentos com rádio móvel terrestre datam dos anos 20 com rádios policiais, e o primeiro serviço regular de comunicação móvel terrestre começou em 1933 para funcionários da segurança pública" (STRAUBHAAR; LAROSE, 2004, p. 164). Dando continuidade aos avanços, Clark Maxwell e Hertz estudaram os movimentos ondulatórios, o que permitiu que Gugliemo Marconi produzisse um dispositivo que transmitia ondas através do ar, o que popularmente chamaríamos de rádio (FERREIRA, 2003). Durante a 1ª Guerra Mundial (1914 - 1918) o rádio era visto como um telégrafo de duas mãos ou ponto a ponto pelo ar. O rádio era uma mídia de comunicações interativas a longa distância e móvel, utilizado para negócios e atividades militares: de fato, a Marinha dos EUA forçou a tecnologia do rádio a avançar durante a 1ª Guerra Mundial, interrompendo a disputa de patentes entre Marconi, Reginald Fessenden, Le De Forest, Edwin Armstrong e outros antigos inventores, para padronizar a tecnologia. [...] A Marinha ainda tinha o controle temporário sobre a tecnologia do rádio, bem como sobre seus recursos, e propôs fazer do rádio uma operação governamental. (STRAUBHAAR; LAROSE, 2004, p. 56 - 57).

O efetivo desenvolvimento das telecomunicações no Brasil teve início com os governos militares.

Nos exércitos, as transmissões ou comunicações militares constituem as tropas especializadas na montagem, exploração e manutenção dos sistemas de informação e de telecomunicações militares. A arma de transmissões ou de comunicações costuma ser definida como "a arma que une as armas". Devido à importância da comunicação nos combates, foram criados, na maioria dos exércitos a arma das comunicações. Em outros, a arma de Engenharia é responsável pelas trocas de informações entre os diversos campos de batalha. No Exército dos EUA, por exemplo, o Corpo de Sinais (Signal Corps) constitui a arma de comunicações que é encarregada de desenvolver, testar, fornecer e gerir as comunicações e sistemas de informação de apoio ao comando e controle das forças de armas combinadas. No Exército Brasileiro, a Arma de Comunicações é conhecida como a Arma do Comando, "responsável por proporcionar as ligações necessárias aos escalões mais altos que exercerão a coordenação e o controle de seus elementos subordinados antes, durante e após as operações." Além disso, atua no controle do espectro eletromagnético, por meio das atividades de guerra eletrônica, para impedir ou dificultar as comunicações do inimigo, facilitar as próprias comunicações e obter informações.

Primeiros passos da internet

No período da Guerra Fria, o desenvolvimento tecnológico e bélico foi extremamente acentuado, já que os países se resguardavam militarmente para um possível confronto armado. Neste meio, ações de espionagem e técnicas de obtenção de informação se tornaram constantes. A contra inteligência passou a ser muito mais que precisa, passou a ser estratégica, juntamente com a informática. A informática e os sistemas computacionais começaram a ser construídos 500 anos a.C., com a invenção do ábaco. Em 1642, Blaise Pascal inventou uma prática máquina de somar. Outras descobertas como a condução elétrica, eletromagnetismo e a Lei de Ohm foram importantíssimas para que em 1882, Charles Babbage e Lady Ada Lovelace começassem a desenvolver o primeiro computador moderno. Em outubro de 1957 a Rússia, já empenhada na corrida tecnológica e armamentista, lançou para o espaço o primeiro satélite artificial na história da humanidade. O satélite Sputnik, que demorava 90 minutos para dar uma volta ao redor da Terra. Como reação a este avanço tecnológico russo, que levou a atenção do mundo para a URSS, o presidente dos USA criou, em 1957, a ARPA - AdvancedReasearch Project Agency. O objetivo da ARPA era o desenvolvimento de programas respeitantes aos satélites e ao espaço. A Guerra Fria pressionou os estudos para a criação de um local seguro contra a ameaça de um ataque capaz de derrubar os meios de troca de informação entre as instituições governamentais americanas e ao ataque ao acervo documental e de inteligência. Assim como o período da II Guerra foi marcado pelo desenvolvimento de computadores eletrônicos como ferramentas de processamento de cálculos matemáticos destinados aos problemas de balística e de decifração de códigos criptografados, os anos de Guerra Fria marcaram o avanço desse escopo, introduzindo os computadores como ferramentas de comunicação e controle de informações (EDWARDS, 1996). Outro fato marcante neste período foi a criação da NASA - NationalAeronautics& Space Administration -, que acelerou as pesquisas e foi um dos primeiros campos de estudos da ARPA. Os poucos, mas muito uteis 'computadores' utilizados nos EUA pertenciam às Forças Armadas, que os utilizavam para o desenvolvimento de ações capazes de superarem os inimigos. Nos primórdios dos anos cinquenta, ainda com resquícios das bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, inúmeros outros testes estavam sendo realizados. Em meio a toda a conturbação, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos iniciou um estudo detalhado acerca do sistema de defesa aérea norte-americana. Esse estudo foi realizado durante seis meses dentro do Massachusetts Instituteof Technology (MIT) com o nome de Projeto Charles, que sugeriu a construção de um núcleo para pesquisadores no assunto, surgindo, dessa forma, o laboratório Lincoln, operado pelo MIT em conjunto com os militares (EDWARDS, 1996, p. 91). Após a explosão da primeira bomba de hidrogênio da URSS, em 1953, se iniciou, no Laboratório Lincoln, um projeto chamado Semi-AutomaticGroundEnvironment, mais conhecido como (SAGE), com o objetivo de se criar e implementar um sistema de defesa contra aviões bombardeiros inimigos. O SAGE trouxe uma série de inovações que, em forma de futuras ideias ou tecnologias, expandiram a nascente indústria de informática. Cito, como exemplo, o uso do modem, para fazer a comunicação digital através de linhas telefônicas comuns, monitores de vídeo interativos, uso de computação gráfica, memórias de núcleo magnético. Em 1961, por exemplo, a Universidade da Califórnia, herdou da Força Aérea um computador IBM; o Q-32. Essa herança permitiu à ARPA orientar a sua investigação para a área da recém-criada Informática.

Para uma rápida comunicação entre as equipes de investigadores, foi necessária a construção de uma rede - NET - que tinha como objetivo principal a comunicação de dados. Já existiam redes de computadores desenvolvidas pelos fabricantes, mas cada um deles impunha as suas normas e utilizava linguagens de comunicação incompatíveis com as dos restantes. Por outro lado a rede deveria oferecer confiança aos utilizadores, isto é, as mensagens deveriam chegar intactas aos receptores quaisquer que fossem os acidentes encontrados no seu percurso entre o emissor e o receptor. (CARVALHO, 2006, p.29) A solução proposta para o problema compreendia por um lado a utilização de redes distribuídas nas quais era possível conectar um receptor e um emissor utilizando vários percursos. Se um nó da rede fosse afetado, a mensagem deveria continuar o seu percurso utilizando outro caminho disponível. Após o primeiro aniversário da ARPA, a instituição quase se desintegrou, pois seu programa de satélites foi passado para a NASA e outras pesquisas foram encaminhadas para outras unidades militares. "A sobrevivência da ARPA foi possível com o reposicionamento do foco no incentivo às pesquisas básicas de longo prazo, através da participação das universidades, que até então estavam fora dos planos do Departamento de Defesa (HAFNER apud CARVALHO, 2006, p. 11) Outra importante inovação, que também teve a presença das Forças Armadas norte americanas nos incentivos as pesquisas é relacionada à comutação de dados por pacotes. A pedido da Força Aérea, se pesquisavam maneiras de manter uma estrutura que pudesse, em um momento de ataque bélico inimigo, permitir alguma comunicação que viabilizasse o disparo de uma operação de contra-ataque. Em 1969 nascia a ARPANET, programa desenvolvido dentro da ARPA: a construção da ARPANET se justificou como um meio de compartilhar o tempo da computação online dos computadores entre vários centros de informática e grupo de investigação da agência. Para se estabelecer uma rede interativa as pesquisas se basearam no estabelecimento de uma rede informática interativa de tecnologia de transmissão de telecomunicações por meio da de pacotes. (CASTELLS, 2001, p.33) A primeira rede de computadores foi construída entre universidades norte-americanas. Entre os estudantes que participaram do projeto se encontrava VintonCerf que, atualmente, é considerado o "pai" oficial da Internet e Robert Kahn, da ARPA. Em seu início, a atividade principal que se desenvolvia na ARPANET era o correio eletrônico. Em 1975, a ARPANET foi transferida a Agencia de Comunicação da Defesa. Com o objetivo de facilitar a comunicação entre computadores de diferentes divisões das Forças Armadas, foi decidido criar uma conexão que ficaria no controle da Agência de Comunicação da Defesa, se estabelecendo a Rede de Dados da Defesa. No princípio do ano de 1980 a ARPANET foi dividida em duas redes. A MILNET que servia as necessidades militares e a ARPANET que suportava a investigação. O Departamento de Defesa coordenava, controlava e financiava o desenvolvimento em ambas as redes. A NSF - National Science Foundation -, criada em 1975, não via com bons olhos o domínio dos militares sobre as redes de comunicação de dados e decidiu construir a sua própria rede denominada CSNET - Computer Science Network - com o objetivo de conectar todos os laboratórios de Informática dos USA. Entre 1975 e 1985 foram formadas várias redes de comunicação de dados utilizando fontes de financiamento diferentes. Depois de analisarmos todo o processo de aproximações entre a tecnologia militar e as telecomunicações, podemos observar que grande parte das invenções e inovações iniciais dos meios de comunicação tiveram a influência direta do meio militar. Tal afirmação pode ser confirmada com os investimentos tanto nacionais quanto internacionais nas pesquisas com o telégrafo e o rádio, por exemplo.

Agora fica o questionamento: Qual o papel das telecomunicações atuais perante as guerras de hoje?

Por Berçário