ARTISTAS PLÁSTICAS NA SEMANA DE 22

01/05/2022

Para celebrar o Dia do Artista Plástico, gostaríamos de homenagear as artistas plásticas mulheres da Semana de Arte Moderna de 22. Porém, para fazermos este recorte, precisamos recordar o que foi este movimento artístico tão comentado e que neste ano comemora seu centenário.

Semana de Arte Moderna

Foi uma das manifestações artísticas mais importantes do Brasil, realizada entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, com a participação de artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Liderada pelo grupo de amigos, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, intitulado Grupo dos Cincos, a SAM deu o pontapé inicial para o fortalecimento do modernismo brasileiro.

Durante toda a semana o saguão do Teatro Municipal esteve aberto ao público, com uma exposição de artes plásticas com obras de Anita Malfatti, Zina Aita, Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti, Harber Brecheret, Ferrignac e Antonio Moya.

Movimento Modernista

Recordemos que muitos desses artistas foram estudar na Europa, principalmente em Paris (onde era o centro irradiador cultural e artístico da época). Logo, trouxeram inovações no campo das artes, os quais foram utilizados com o objetivo de romper com a tradição da cultura ocidental, uma vez que a arte clássica buscava delimitar as formas e apresentar os detalhes das diversas belezas existentes de maneira harmônica e os modernistas buscavam focar nos sentimentos e paixões, com obras cujas formas não possuíam delimitações, tendo a intenção de que a obra se parecesse com um movimento interior, um sentimento que passasse pelo apetite.

Ainda que tivessem características das vanguardas europeias, o evento buscava apresentar uma arte mais brasileira (brasilidade). Por esse motivo, a primeira fase modernista priorizou temas pautados no nacionalismo, portanto na cultura e na identidade do Brasil.

Mulheres na SAM

Como sabemos, as mulheres em 1922 ainda estavam conquistando seu espaço na sociedade brasileira, onde hoje, alguns atos hoje considerados "normais" eram motivo para diversas discussões na época. Na década de 1920, o voto das mulheres era negado e as oportunidades de trabalho fora da vida doméstica ainda eram extremamente escassas. Apesar disso, acreditavam que tinham direito de lutar por novos espaços na vida social, na política e no mercado de trabalho e superar os papéis sociais que, durante séculos, lhes foram atribuídos: mães e donas de casa.

Diante de todo esse contexto conseguimos "compreender" o porquê de poucas mulheres participarem da Semana de Arte Moderna. Segundo registros, apenas seis mulheres foram citadas: as pianistas Guiomar Novaes e Lucília Vila-Lobos e as artistas plásticas: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Regina Graz e Zina Aita.

Artistas Plásticas na SAM

Anita Malfatti

Nascida em São Paulo, filha de pai imigrante italiano e mãe norte-americana, Anita Catarina Malfatti teve uma infância difícil. A pintora nasceu com uma deficiência congênita no braço direito, que tentou ser corrigida em uma cirurgia, sem muito sucesso. Por isso, com a ajuda da alemã Miss Browne, governanta da família, a futura artista desenvolveu os movimentos da mão esquerda para escrever e pintar.

Porém, sua história poderia ter sido muito diferente pois, aos 13 anos, Anita tentou o suicídio ao se deitar nos trilhos do trem na Barra Funda, zona oeste da capital paulista, onde morava. Foi naquele momento que decidiu se dedicar à pintura.

E a empreitada deu certo. Mesmo assim, a pintora ficou um tempo sem produzir e se dedicar às obras. Ao retomar os estudos, conheceu Tarsila do Amaral, de quem se tornou muito próxima. Foi graças ao incentivo da amiga que Anita aceitou participar da Semana de Arte Moderna de 1922. Hoje, a artista é considerada uma das pintoras mais importantes do modernismo brasileiro e deixou um legado de dezenas de telas, sendo reconhecida internacionalmente pela sua arte.

Tarsila do Amaral

Nasceu na Fazenda São Bernardo, no município de Capivari, interior do Estado de São Paulo em 1 de setembro de 1886. Filha de família tradicional e rica, estudou em São Paulo no Colégio Sion.

Completou seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pintou seu primeiro quadro, "Sagrado Coração de Jesus", aos 16 anos.

Na sua volta ao Brasil casou-se com o noivo André Teixeira Pinto, com quem teve uma filha.

Em 1916 começou a trabalhar no ateliê de William Zadig, escultor sueco radicado em São Paulo. Com ele aprendeu a fazer modelagem em barro. Separou-se de André Teixeira e em 1920 foi para Paris, onde estudou na Academia Julian, escola de pintura e escultura.

Tarsila teve uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses em 1922. Nesse mesmo ano regressou ao Brasil e se integrou com os intelectuais do grupo modernista. Fez parte do "Grupo dos Cinco", juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia.

Nessa época, já separada, começou seu namoro com o escritor Oswald de Andrade. Embora não tenha participado da "Semana de 22" integrou-se ao Modernismo.

Nos anos seguintes, Tarsila pintou diversos quadros que até hoje são notórios (Abaporu, Operários, entre outros), envolveu-se em diversos movimentos artísticos e até políticos (o que resultou em uma noite presa).

Em seus últimos anos de vida, Tarsila realizou em 1970, uma retrospectiva, "Tarsila: 50 anos de Pintura", (no Rio de Janeiro e depois em São Paulo; em 1971, recebeu o prêmio "Golfinho de Ouro" e em 1973, Tarsila faleceu no dia 17 de Janeiro, deixando um grande legado artístico.

Regina Graz

Pintora, decoradora e tapeceira - chegou a ser considerada a responsável pela introdução das artes têxteis modernas no Brasil. Além disso, foi tida como uma das artistas mais produtivas do país durante a primeira e segunda gerações do modernismo brasileiro.

Irmã do também pintor Antônio Gomide, Regina Gomide Graz nasceu em 1897 na cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, mas se mudou para Genebra, na Suíça, por conta de um cargo diplomático do pai. Lá, conheceu o pintor suíço-americano John Graz, com quem se casou.

De volta ao Brasil, trouxe na bagagem diversos estudos baseados na ascensão de movimentos artísticos modernistas, entre eles o cubismo e o dadaísmo. No início da década de 1920, Regina passou a se dedicar profissionalmente à arte, fazendo parte da sociedade intelectual da época. Foi assim que conheceu o poeta, escritor, ensaísta e dramaturgo Oswald de Andrade e foi convidada para expor suas obras de tapeçaria,que já traziam elementos do movimento Art Déco, na Semana de Arte Moderna.

No ano seguinte, 1923, a artista realizou uma pesquisa sobre tecelagem indígena do Alto Amazonas, fato que a tornou uma das pioneiras no interesse pela tradição dos povos originários brasileiros.

Mesmo com grande participação no movimento artístico da época, ainda é difícil encontrar registros sobre a história de Regina que não seja atrelada ao seu papel de "colaboradora", "irmã" ou "esposa".

Zina Aita

Pintora, desenhista e ceramista, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 com oito telas, que apresentavam sua tendência decorativa e preferência pela figura humana. As obras também deixaram evidente sua forte ligação com outro movimento artístico: o impressionismo.

Zina foi a pintora que levou o modernismo para Belo Horizonte, sua cidade natal. Filha de empresários italianos imigrantes, morou por muito tempo na Itália - foi lá, inclusive, que passou seus últimos anos de vida. Mas a artista ficou no Brasil o bastante para deixar um legado. Dizem que Zina foi para Minas Gerais o que Anita Malfatti foi para São Paulo: as principais faces do modernismo.

Apesar de ter feito obras importantes em tela, Zina também estudou cerâmica no exterior, com o designer italiano Galileo Chini, uma referência no setor. Em Nápoles, dirigiu uma fábrica de cerâmica e, a partir de então, trocou a pintura pelas artes industriais, sendo reconhecida internacionalmente e ganhando vários prêmios.

Principais obras da Semana de Arte Moderna de 22

*Por falta de registros, não encontramos muitas obras, inclusive, não sabemos se Panneau de Regina Graz estava de fato na exposição da Semana de Arte Moderna de 22, mas para conter pelo menos uma obra da artista, colocamos a imagem da obra.

Agradecemos a essas mulheres, artistas plásticas, que deixaram sua marca não só na Semana de Arte Moderna, mas também abriram caminhos para outras