A IGREJA CATÓLICA E A JUSTIÇA SOCIAL

01/02/2024

POR: CAJ

Imagem: Martinho de Lima
Imagem: Martinho de Lima

A Igreja Católica em todasua história de mais de dois mil anos sempre se preocupou com a justiça social no seio da sociedade. Desde que se formaram as primeiras comunidades cristãs, a questão da justiça foi tema de reflexão. Nos Atos dos Apóstolos podemos ler que entre os cristãos tudo era comum e não havia necessidade entre eles. Para realizar esse grande ideal, os cristãos precisavam pôr os seus bens em comum e mostrar, na prática, a solidariedade para com os mais pobres.

No correr da história, os cristãos constataram que a situação de desigualdade entre ricos e pobres nas diversas sociedades do mundo precisava ser enfrentada e resolvida. Por isso, a prática dos cristãos sempre foi a de dar esmolas ou construir instituições que aliviassem a situação de pobreza de grande parte da população. Assim, foram criados hospitais para atender os pobres, escolas para ensinar aqueles que não podiam pagar um professor para formar os jovens, e outras atividades semelhantes. 

Na América Latina temos o testemunho de um jovem chamado Martinho.

Filho de um nobre espanhol e de uma escrava liberta, nasceu no Peru, em 1579, na sua juventude aprendeu o ofício de auxiliar de barbeiro, que naqueles tempos incluía certos predicados de enfermagem. Em 1603, entrou para a Ordem dos Dominicanos, no convento de Lima. Não tendo estudos, fez a profissão religiosa como irmão cooperador. Religioso humilde, piedoso e caridoso, amava cuidar dos enfermos e fazer o serviço caseiro do convento. O papa João XXIII o canonizou em 1962. Martinho de Lima tornou-se muito popular em toda a América espanhola. O serviço que prestou aos pobres pode ser considerado como uma ação de justiça social, pois o convento onde vivia fornecia milhares de refeições aos pobres daquele país. No entanto, a ideia de justiça social é bastante recente. Ela se torna mais conhecida a partir da posição dos papas da época moderna, sobretudo com Leão XIII, o papa que escreveu uma encíclica sobre a situação dos operários no final do século XIX (Rerum Novarum). Os dois últimos papas Bento XVI e Francisco têm se pronunciado claramente sobre as situações de pobreza no mundo e a necessidade de uma conversão da sociedade invocando a necessidade de se criar leis que possam diminuir a desigualdade social.

A Igreja Católica não só reflete teoricamente sobre esses problemas de justiça social. No Brasil, a Igreja também procura atuar através de outros organismos como a Comissão de Justiça e Paz com sede em Brasília, junto à Conferência dos Bispos do Brasil, e outras Comissões como o Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara, a Comissão Pastoral da Terra, o Conselho Indigenista Missionário.

Outras ações concretas da Igreja Católica são as Campanhas da Fraternidade por ocasião da Quaresma. Outro movimento também importante para amenizar a situação dos pobres é feito pelos vicentinos. Mas, apesar de todos esses gestos concretos, o desafio maior que temos diz respeito às grandes mudanças que podem ser feitas no plano político, através da mudança de leis que venham diminuir a desigualdade social. É preciso que tenhamos políticos sensíveis a essa necessidade e que se empenhem de verdade em votar leis que favoreçam o povo trabalhador e possam ajudar a diminuir o grande abismo que separa o punhado de ricos das legiões de pobres que temos nas diversas partes do mundo, mas, sobretudo, em nosso próprio país.

Márcio A. Couto OP, dominicano, pároco da Igreja São Domingos, São Paulo, SP.

Fonte: www.revistamissoes.org.br