Mulheres na Nasa

01/02/2022

Como Tudo Começou...

As mulheres foram, basicamente, os primeiros computadores da NASA. Quando computadores ainda não existiam, todo o trabalho de análise de testes, cálculo e plotagem de dados era feito por pessoas. Por mulheres, mais especificamente.

Tudo começou com um grupo de cinco mulheres em 1935, contratadas para formar uma equipe de computadoras que teria a função de processar todos os dados vindos dos testes de voo e de túneis de vento (obs: na época pré-Guerra Fria/corrida espacial, a NASA ainda era apenas NACA - Conselho Nacional para a Aeronáutica). A ideia era tirar a enorme e complexa carga de trabalho matemático dos ombros dos engenheiros para que eles tivessem mais tempo para focar nos experimentos. Como mulheres eram vistas como mais atentas a detalhes e - mais importante ainda - podiam receber salários significativamente menores para fazer o mesmo trabalho que homens, elas foram as escolhidas para desempenhar esse papel.

A experiência deu tão certo que de cinco computadoras em 1935, a equipe cresceu para 940 em 1941, e 3220 computadoras ao final de 1945. Em 1942, um memorando circulou na agência ressaltando a importância do trabalho dessas mulheres, dizendo que "os próprios engenheiros admitem que as garotas computadoras fazem o trabalho mais rápido e com mais precisão do que eles poderiam fazer".

O momento histórico também contribuiu imensamente para a contratação de mulheres na agência. Com milhares de homens sendo embarcados para lutar na Segunda Guerra Mundial, simplesmente não havia opção a não ser parar de aprisionar mulheres nos tradicionais papéis de dona-de-casa/professora/enfermeira e aceitá-las em outras funções.

Da mesma forma, a guerra também criou oportunidades inéditas para profissionais negros. Protestos contra políticas discriminatórias de contratação nas Forças Armadas e na indústria bélica fizeram com que o governo, que temia possíveis tumultos e desunião em tempos de guerra, tomasse algumas ações concretas. Com isso, foi criado o Comitê de Práticas Justas de Contratação, que proibiu a discriminação racial na indústria de Defesa americana - um avanço que abriu as portas da NASA para mulheres negras que fizeram história.

As Computadoras Negras da Ala Oeste

Logo que a proibição do Comitê entrou em vigor, as agências federais correram para acatar as novas regras e aumentar os seus contingentes de funcionários negros. Na NASA, homens negros foram contratados para serviços de maquinário e construção, enquanto mulheres negras com formação em matemática foram buscadas em todos os cantos do país para integrar a já sólida central de mulheres computadoras da agência.

Mas, elas eram negras. E com o racismo ainda bombando com as leis de segregação racial de Jim Crow, isso significava que as barreiras seriam muito maiores para elas do que as enfrentadas pelas mulheres brancas.

Embora tivessem se formado com honrarias nas mais prestigiosas universidades negras do país e realizassem o mesmíssimo trabalho que as mulheres brancas, as computadoras negras foram alocadas em um prédio separado, conhecido como Ala Oeste, e tinham que passar em um curso em Química no Instituto Hampton antes de serem contratadas - exigência que não existia para as computadoras brancas. Além disso, a segregação existia também nas áreas comuns, como banheiros e lanchonetes.

Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, inevitavelmente as forças conservadoras da sociedade fizeram pressão para que a situação de contratação voltasse ao que era antes da guerra, com as mulheres brancas e negras (e os homens negros e outras minorias) fora do mercado de trabalho que haviam conquistado. E embora infelizmente para muitos isso tenha acontecido, de forma geral todas as mudanças do período foram tão significativas e trouxeram tantas conquistas que se tornaram um caminho sem volta. Com o reconhecimento da importância das computadoras e o Movimento de Direitos Civis tomando força, não tinha mais jeito: as mulheres, e especialmente as mulheres negras, chegaram na NASA para ficar.

Como resultado, o trabalho das computadoras se expandiu e fundamentou uma enorme quantidade de pesquisas, com papéis fundamentais em uma variada gama de projetos - desde testes aeronáuticos para a Segunda Guerra Mundial, até o estudo de voos supersônicos e a subsequente corrida espacial durante a Guerra Fria. Muitas computadoras desenvolveram métodos e técnicas específicas para a área da aeronáutica e aeroespacial, sendo que muitas chegaram a escrever livros e a redigir estudos e pesquisas em parceria com colegas engenheiros.

Mulheres de Destaque

Apesar de nunca ouvirmos falar sobre elas, muitas mulheres na NASA fizeram contribuições estrondosas para a ciência e a exploração do espaço - tanto no papel de computadoras, como em outras funções. Felizmente, cada vez mais estamos ouvindo falar nessas mulheres, principalmente com projetos como o Hidden Figures, que traz informações valiosas sobre as histórias e contribuições de mulheres negras na NASA.

Katherine Johnson

Contratada em 1953, Johnson iniciou seus trabalhos na NASA como uma computadora da ala oeste, mas não ficou por lá muito tempo. Perguntando constantemente coisas como "Por que mulheres não podem participar das reuniões e briefings? Tem alguma lei?", Johnson logo passou a trabalhar lado a lado com os engenheiros, se tornando a primeira mulher - e a primeira pessoa negra - a participar da Space Task Force, responsável por colocar seres humanos no espaço o mais rápido possível.

Em 1961, seus cálculos para a trajetória da cápsula de Alan Shepard foram fundamentais. De acordo com ela:

"Logo no começo, quando eles disseram que queriam que a cápsula descesse em um lugar específico, eles estavam tentando computar quando deveriam lançar. Eu disse, 'Deixa que eu faço. Vocês me dizem onde a querem e onde querem que ela pouse, e eu faço os cálculos ao contrário e digo quando lançar'. Essa era a minha especialidade".

Mais tarde, Johnson revisou todos os cálculos para o lançamento histórico de John Glenn (o primeiro homem a entrar em órbita), que não confiava nos computadores eletrônicos e pediu para que Johnson checasse se todos os cálculos estavam corretos.

Christine Darden

Darden foi contratada pela NASA em 1967 como computadora, mas, tendo estudado programação na faculdade, logo assumiu atividades chave de programação também (com a introdução de computadores eletrônicos, as computadoras passaram a realizar também as atividades de programação). Em cinco anos, ela foi promovida a engenheira aeroespacial.

Em 1983, Darden completou o doutorado em engenharia de aerodinâmica supersônica e se tornou uma das maiores especialistas da NASA em voos supersônicos e estrondos sônicos. Em 1989, ela foi promovida a líder da Equipe de Estrondo Sônico e se tornou a primeira mulher negra na NASA a assumir um cargo executivo sênior.

Margaret Hamilton

Hamilton trabalhou junto a NASA na década de 1960, quando foi a diretora da Divisão de Software no Laboratório de Instrumentação do MIT, que desenvolveu o programa de vôo usado no projeto que levou a humanidade até a lua - o Apollo 11. O software de Hamilton impediu que o pouso na Lua fosse abortado.

Hamilton é creditada por ter criado o termo "engenharia de software", tendo sido uma das desenvolvedoras dos conceitos de computação paralela, priority scheduling, teste de sistema, capacidade de decisão com integração humana, e mostradores de prioridade, que seriam a base moderna para o design de software ultra confiável.

Em 2003, Margaret foi premiada pela NASA por suas contribuições técnicas e científicas. O prêmio incluiu a soma de $37.200,00 - o maior valor já premiado a um indivíduo na história da NASA.

Pearl Young

Young foi a primeira mulher contratada como profissional - física, no caso - na NACA (a precursora da NASA), em 1922. Com isso, ela foi também a segunda física mulher a trabalhar para o governo federal norte-americano. Em 1929, Young foi a primeira pessoa a assumir o cargo de Editora Técnica Chefe, sendo uma de suas principais contribuições a criação de um escritório editorial e de um manual para engenheiros, que definia o formato para relatórios e pesquisas conduzidos em todos os centros da NACA.

Melba Roy Mouton

Em 1961, Mouton se tornou responsável pela equipe que determinaria a órbita de naves no Espaço. Nessa função, ela desenvolveu programas para prever o local e a trajetória de aeronaves, permitindo a NASA acompanhar as naves no espaço.

Demorou apenas dois anos para que Mouton assumisse essa função. Ela foi contratada em 1959 como matemática-chefe para os Satélites Echo 1 e 2, mas rapidamente foi subindo de cargo, passando por Diretora de Programação Computacional, Chefe da Seção de Produção de Programas no Goddard Space Flight Center, e Assistente-Chefe de Pesquisa de Programas na Divisão da NASA de Trajetória e Geodinâmica, até chegar a Programadora-chefe, em 1961.

Nancy Grace Roman

Nancy Grace Roman é conhecida como a "mãe do telescópio Hubble" e foi a primeira mulher a ocupar um cargo executivo na Nasa. Nancy ganhou 7 prêmios em 10 anos de carreira na agência espacial norte-americana.

Dorothy Vaughan

Dorothy Vaughan chegou à Nasa no auge da Segunda Guerra Mundial, após deixar seu cargo como professora de matemática. Dorothy foi a primeira supervisora negra e aprendeu sozinha a programar um computador da IBM. Até se aposentar, dedicou 28 anos de sua carreira à agência espacial,

Sally Ride

Sally Ride é considerada uma das físicas pioneiras na Nasa. Ela entrou para a agência espacial na turma de astronauta de 1978, a primeira a aceitar candidatas mulheres. Ela participou da missão STS-7 do ônibus espacial Challenger, em 1983, e foi a primeira mulher da América no espaço.

Mary Jackson

A engenheira espacial Mary Jackson teve grandes desafios em sua vida. O primeiro foi ter que conseguir na justiça a permissão para estudar engenharia em uma universidade para brancos. Segunda a Nasa, Mary era a única engenheira aeronáutica nos anos 50. A engenheira foi autora e coautora de diversos relatórios de aviões espaciais, e se aposentou após 34 anos de carreira.