“O impacto das Tecnologias e nos atendimentos da FUNSAI durante a Pandemia”

01/07/2021

O uso de telas na primeiríssima infância é tema de discussão recorrente entre os especialistas. Mais recentemente, esse uso foi determinado como prejudicial ao desenvolvimento infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), seguindo a indicação de uma série de pesquisas e outras Sociedades de pediatrias internacionais. A SBP recomenda evitar a exposição de crianças às telas até os dois anos e entre três e cinco anos, limitar o uso ao tempo máximo de uma hora por dia, sempre com a supervisão parental. 

As pesquisas mostram que o uso de tela por bebês impacta diretamente no desenvolvimento neurológico e na construção da arquitetura do cérebro. Isso porque o estímulo visual causado pelas telas ultrapassa a capacidade do cérebro do bebê de lidar com esses estímulos causando o fenômeno do "bebê vidrado". Frente ao estímulo da luminosidade, das muitas cores, dos movimentos de objetos e personagens que advêm das telas o bebê fica completamente capturado, ou seja, frente à superestimulação o cérebro do bebê não consegue se desvencilhar, e os adultos que estão em volta tendem a ler essa cena como se o bebê estivesse entretido, interessado.

O bebê vidrado não é um bebê atento. Na verdade, nos primeiros dois anos de vida um estímulo muito forte pode prejudicar o que se chama fenômeno de habituação, capacidade do bebê em se desvencilhar de um estímulo excessivo e que não lhe agrada ou que lhe amedronta.

Do 0 aos 3 anos é um período fundamental do desenvolvimento neurológico infantil, é nessa janela que se observa a maior plasticidade cerebral, ou seja, uma capacidade aumentada do cérebro em se remodelar em função das experiências da criança na descoberta do mundo à sua volta. Para o desenvolvimento da maioria dos processos cognitivos, a interação afetiva é fundamental. Ou seja, a interação das crianças com adultos e com outras crianças são essenciais para o desenvolvimento saudável e sabemos o quanto as telas limitam essa interação.

Outro ponto fundamental no desenvolvimento infantil é a experiência da criança no mundo com o seu corpo. Para uma criança conhecer o mundo e, portanto, se desenvolver, sua motricidade é protagonista nesse processo: deslocamentos, movimentações, coordenações sensoriais, manipulações. A tela exige da criança uma postura passiva, que limita seu corpo e evita o engajamento do corpo no projeto de conhecer o mundo, começar a movimentar o corpo, engatinhar, andar, tocar objetos e alcançar com suas pernas e braços o mundo ao redor.

Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), investigou a relação entre habilidades motoras, atividade física, uso de telas. O estudo relacionou diretamente o uso excessivo de tela ao aumento da probabilidade de crianças apresentarem habilidades motoras pobres, inatividade física e diminuição das horas de sono.

Compreendendo o desserviço das telas ao desenvolvimento infantil na primeiríssima infância, a equipe do Berçário não utilizava essas ferramentas em sua rotina, nem no projeto político pedagógico. No entanto, de repente fomos atravessados pelo novo real imposto pelo contexto pandêmico, no qual as interações e encontros passam a ser evitados para a proteção das crianças, famílias e equipe. Neste novo cenário, a tecnologia passa a ser uma das únicas ferramentas para manter o contato e os vínculos construídos até então.

Como fazer, que o uso da tecnologia garanta esses laços sem colocar em risco o desenvolvimento infantil?

Ao caminharmos pela primeira vez no Berçário depois de alguns meses, tivemos o desafio de acolher crianças e famílias, utilizando a tecnologia como instrumento primordial para garantir experiências significativas dentro de um cenário pandêmico.

Dialogamos diversas vezes com todo o corpo docente da unidade, para construção de uma metodologia alinhada as nossas perspectivas de trabalho que atenda a educação infantil e suas particularidades, levando em conta a questão do uso de telas na primeiríssima infância. Nessa circunstância, as atividades remotas se mostraram como uma das únicas possiblidades possíveis.

Neste contexto de isolamento social, só as famílias podem garantir a sustentação do vínculo entre a criança e sua escola. Por essa razão, desde o início, planejamos as atividades remotas para serem realizadas em família.

Como reduzir os danos emocionais causados pelo contexto pandêmico?

Apostamos nas atividades remotas diárias, como dispositivo que favorece à criança a construção da noção de permanência. Poder ter contato com sua educadora, já conhecida em anos anteriores, e receber dela uma proposta de atividade pode favorecer a compreensão da criança de que apesar das mudanças esses vínculos permanecem. Percebemos também, que a possibilidade da criança de dar um retorno à educadora sobre a atividade que realizou com a sua família é fundamental nesse processo, eles demonstram potência e protagonismo, podendo compartilhar suas conquistas.

Contudo, as famílias também precisam criar esse espaço que possibilitam esses momentos de aprendizagem e passem a fazer parte desse novo quadro educativo. Os vídeos são pensados e estruturados de modo que, atenda cada faixa etária e facilitem a realização das atividades, oferecendo opções de materiais e objetos que as famílias utilizam no cotidiano.

As telas não podem ser o único canal de percepção do mundo externo para a criança, mas quando utilizadas de forma adequada, podem ser aliadas do desenvolvimento. Esperamos que as novas tecnologias estejam ao alcance de todos e sirvam como aliadas as práticas pedagógicas como fonte de pesquisas e interatividade..

"Qual é a nossa tarefa na vida? Temos uma tarefa na vida: transformar em verbo as pessoas que a gente acha que encarnam a esperança. Nossa tarefa na vida é "mandelar": eu mandelo, tu mandelas, ele Mandela, nós mandelamos; eu Jesus Cristo, tu Jesus Cristas, ele Jesus Crista; eu Sidarta Gautama, tu Sidarta Gautamas, ele Sidarta Gautama; eu Martinho Lutero, tu Martinho Luteras, ele Martinho Lutera; eu madre Teresa de Calcuteio, tu madre Teresa de Calcuteias, ela madre Teresa de Calcuteia."

(Mario Sérgio Cortella, novembro de 2011).

Oficinas on-line

Por Conectados

As oficinas on-line são uma nova experiência para quase todos nós. Não fazia parte da nossa cultura educacional o processo EAD; ele se apresentava apenas de maneira isolada em algumas instituições. Com o início da pandemia e as novas mudanças nos métodos de interação pessoal e educacional, elaboramos e iniciamos neste ano de 2021 as oficinas da FUNSAI de maneira online, incluindo a de fotografia.

Alunos da oficina de fotografia - Imagem: Divulgação Rádio Conectados

Inicialmente esta nova modalidade se apresentou como um desafio na área do ensino, não só para mim, mas creio que para todos os educadores de diversas instituições. Buscamos, portanto elaborar técnicas de ensino à distância, visando sempre explorar o máximo da tecnologia disponível para a prática da fotografia à distância. A experiência vem se apresentando bem benéfica e surpreendente. Novas formas de se pensar a fotografia e de praticá-la vem sendo desenvolvida aula a aula. Os alunos percebem que o desenvolvimento criativo e técnico pode ser alcançado, diante do emprego das atividades e do ânimo de aprender. A ideia é que mesmo no âmbito de "home", trazer o mundo fotográfico para dentro daquele espaço, simulando a sala de aula, um estúdio fotográfico, uma sala de reuniões, uma mesa de trocas de experiências e vivências. Simular o presencial mesmo que a distância.

O processo de ensino é diferente, é inovador e me sinto mesmo como educadora, fazendo parte de um processo de aprendizagem, onde criar novas alternativas, ressignificar a arte e a técnica se tornam itens essenciais neste momento do ensino.

Novas Estratégias!

Por Socioassistencial e Educacional

No ano de 2020, em decorrência do estado de emergência por causa do contexto pandêmico no mundo e no Brasil, os profissionais da FUNSAI tiveram que se reinventar e criar novas estratégias para conseguir manter os atendimentos das famílias inscritas nos serviços e projetos da FUNSAI. Com isso, o serviço social e a psicologia social iniciaram a utilização das ferramentas tecnológicas, a fim de garantir uma escuta acolhedora e a continuidade do acompanhamento psicossocial das famílias de uma maneira rápida, segura e garantindo o sigilo profissional. A partir da entrevista psicossocial remota e a identificação das demandas relacionais e/ou socioeconômicas, os profissionais orientaram as famílias na busca dos atendimentos na rede de políticas públicas do território de moradia. Além do acompanhamento psicossocial, a tecnologia vem nos ajudando na articulação com a rede das políticas públicas, tais como reuniões virtuais com os diversos profissionais; agendamento dos atendimentos das famílias, dentre outras ações que viabilizam o encaminhamento dos usuários conforme a realidade de cada um. Esses recursos tecnológicos, que continuam a ser utilizados em 2021, não vieram para substituir os atendimentos presenciais, pelo contrário, eles nos ajudam a estar mais próximos das demandas relacionais e sociais nesse período de distanciamento social tão necessário para o cuidado de todos. Caso o profissional ou a própria família percebam a necessidade da entrevista psicossocial presencial ou a visita domiciliar, essas serão realizadas, utilizando todos os protocolos sanitários para a proteção da vida. Aquelas famílias que não possuem recursos tecnológicos, também são acompanhadas por meio de ligações telefônicas e demais intervenções, conforme o contexto apresentado.

Além dos telefones disponíveis, as Unidades da FUNSAI estão abertas, conforme as orientações dos órgãos públicos, podendo ser referência para o atendimento das famílias inscritas na FUNSAI, ou para agendar atendimento com a equipe técnica. Há muitos desafios que as famílias estão vivenciando em seu dia adia, por isso as ações interventivas planejada e contínua, seja por atendimento presencial ou por todos meios tecnológicos, associada à ampliação das informações referentes às políticas públicas no território e os acessos aos benefícios financeiros, de saúde, de emprego/renda, de educação, assistência social, dentre outros, são estratégias para fortalecer a função protetiva e de promoção da família.